03 julho 2006

Entre a terra e o céu













Entre as dunas verdes, ladeados pelos pinheiros mansos, a tua presença sentia-se mais que o Sol a pique ou o vento húmido que soprava vindo do mar. O teu olhar tenso atravessava a pequena depressão entre os montes fabricados, cego para a realidade que acabaras de conhecer. A tua roupa vermelha contrastava com o verde fresco, intenso.
Aproximo-me de ti com toda a coragem que me resta.
Com um movimento rápido ergues-te do chão.
- Como foi acontecer? – Perguntas desconfortável, repreendendo-me com o olhar, como se de alguma forma, como se por um passe de magia, tudo pudesse voltar a ser como era antes.
O medo apoderou-se de mim. O medo de ouvir o que realmente queres dizer, e o embaraço da minha própria existência, agora, inevitavelmente ligada a ti, cresci-a.
- Sei lá. - Respondi nervoso, mostrando a minha impotência perante a verdade.
As palavras sufocavam-te. Sufocavam-me. Palavras que teimavas em não soltar. Gritas-te. Um grito surdo que só eu conseguia ouvir. Corpo e alma em agonia.
Quis também gritar, mas só a lágrimas me permiti.
Por mim. Pela minha sorte por tudo o que vivi e não senti, chorei. Chorei por ti.
- Desculpa. - Repliquei.
Rendido à desilusão e ao sofrimento, senti o teu olhar. Com um movimento fraco e inseguro ergui os olhos encharcados ao encontro dos teus.
Vi uma lágrima que rolava pelo teu rosto e no momento em que os nossos olhos se cruzaram, a tua mão tocou levemente a minha. Uma paz expectante encheu-me o peito, quase me impedindo de respirar. És tu? E num instante, com uma doçura que nunca tinha provado, com um calor que nunca me tinha queimado, provei o teu beijo e o tempo parou.
Ficamos caídos, algures entre a terra e o céu.
- Confias em mim? Confias em nós?